Filomena Maria Antunes Guerra da Cunha Casalta, 46 anos, nasceu em Coimbra mas muito cedo veio viver para a Covilhã. Esta Formadora, Socióloga e Psicóloga Clinica, acredita na capacidade de manter bons relacionamentos entre as pessoas para não se perderem de todo em conceitos como individualismo que por vezes comanda a sua vida. Com ligações familiares à vila do Paul, diz ser uma terra que aprecia pelas pessoas que aqui vivem, pelas suas tradições e vivacidade. Diz mais. A nossa sociedade portuguesa seria melhor, se mais pessoas fossem assim tão unidas e determinadas como são as do Paul. Opiniões. Também refletidas quando confessa que tem esperança que as pessoas se apercebam que a alegria e a felicidade só se alcançam se mantivermos uma boa relação connosco e com as outras pessoas, a relação do “ser” e não a relação do “ter”.
Já ao nível do pensamento que elege , continua a ser ternurento porque afirma “um coração amoroso é a sabedoria mais verdadeira”, sendo certo que, a sua cumplicidade com os outros, ou não fosse a psicologia clinica a área que mais a realiza profissionalmente emerge na sua frase preferida,” “não perdemos nada em acender a vela do outro, só produzimos mais luz”.
Luz é o que julgamos ter feito sobre facetas desta covilhanense que na geografia os afetos pela arte , cultura e forma de vida da comunidade paulense, é uma admiradora confessa.
Filomena Casalta, é a senhora que se segue nesta galeria de retratos de vidas do Inforpaulense, que na emergência do quotidiano tem dado a conhecer pequenas histórias de gente que vai marcando a diferença.
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Filomena Casalta |
A infância…
Tive uma infância feliz, porque tive possibilidade de brincar, correr e conviver com os meus primos e tios, embora também naquela altura (apesar de crianças) nos pediam para ajudar nos trabalhos do campo.
Passava as férias em casa dos meus avós maternos na zona da Guarda e adorava fazer companhia à minha avó quando pastava as ovelhas e tratava dos outros animais. Na altura da apanha da azeitona é que era mais complicado porque tinha que ir com a minha mãe e o meu irmão ajudar e custava-me muito ter que acordar às 6 da manhã para ir para casa da avó paterna e ter que andar ao frio a apanhar a azeitona
Tive as minhas aventuras caricatas como criança, onde por exemplo, fui mordida por um cão na cara (junto ao olho direito) quando tinha 5 anos e recordo que naquele dia ao ver os adultos a olharem para mim com ar estranho antes de ir para o Hospital, perguntei à minha mãe “se ia morrer”. No entanto, este episódio em nada me impediu de gostar de animais, pois apesar da tenra idade, estruturei no meu “pensamento” que a “culpa” foi minha, porque o cão estava deitado e eu devo tê-lo pisado ou assustado para ele me morder! Aliás, gosto muito de animais e temos uma cadela cá em casa há 9 anos e recentemente ofereceram à minha filha uma Chinchila. Os animais exigem muitos cuidados, atenção e afectos e costumo dizer em determinadas situações que quem não gosta e não sabe lidar com animais tem mais dificuldade em compreender, aceitar e lidar com as pessoas.
O primeiro beijo...
Foi difícil e muito engraçado, mas resultou em muitos outros beijos! Depois de 3 meses de namoro, o meu namorado (na altura) teve que me fazer um “ultimato” do género: “…ou damos um beijo, ou não há condições para continuarmos desta forma a namorar!” E lá aceitei… e depois disso namorámos mais 7 anos e meio e há 23 anos que estamos casados, feitos a dois de Fevereiro deste ano.
Aquele rapaz e homem com quem agora partilho a minha vida há 31 anos e deste amor e união (com muitos beijos). Temos uma filha. Casei com 23 anos ainda estava a estudar, mas não me arrependi, pois foi da forma que terminei melhor o Curso. .
Com os pais...
Sempre próximos e sempre meus amigos. Sou a filha mais nova 4 anos de um outro filho e até à idade adulta sempre fui apelidada de “Meninha”. Apenas com o meu pai a trabalhar (usufruir de dinheiro) como Bancário, os meus pais tiveram que fazer muitos sacrifícios para nos proporcionarem (ao meu irmão e a mim) uma Educação Superior.
Professores...
Nunca esquecerei a minha Professora Primária (do 3º e 4º anos), a Professora Maria dos Santos, que detetou que tinha um problema oral (não conseguia verbalizar adequadamente todas as palavras e por isso dava erros ortográficos), e convenceu a minha mãe a levar-me a um Dentista. Graças a ela e aos técnicos dentistas fui a primeira menina da Covilhã a usar um aparelho de dentes que possibilitou a resolução das minhas dificuldades.
Amigos/as...
São os melhores do Mundo! Tenho pessoas amigas de todas as idades: com as mais próximas encontro-me com alguma regularidade para falarmos do mundo e da vida, das alegrias, das tristezas e também dos “sonhos”. Com as que estão mais distantes, torna-se mais difícil os encontros, mas de tempos a tempos conseguimos estar juntas e aproveitamos para nos divertir.
Família...
Consegui ser mãe aos 27 anos depois de vários tratamentos médicos. A este propósito (dos tratamentos) e por vezes costumo pensar que a minha filha só podia ser desejada e linda porque várias pessoas contribuíram para o seu nascimento.
De facto, considero que a família é célula basilar de qualquer sociedade e acredito também de qualquer pessoa para ser “feliz” e integrada nos vários contextos da sua vida. Sou uma pessoa afortunada, porque desde a família nuclear onde nasci, passando pela que estou ainda a construir com o meu marido e filha até aos meus sogros e cunhados, nunca me faltou apoio nos momentos menos bons e nos momentos felizes sempre pude compartilhar com todos as minhas alegrias e vitórias. Não posso também deixar de referir que a “família” não se resume à família de sangue. Não! Cada vez mais julgo que é importante, criar afetos e relações positivas com pessoas amigas que acabam por ser também como membros de uma família e neste contexto posso referir que tenho pelo menos mais uma “irmã”.
O primeiro emprego…
Fui Formadora e logo de seguida Professora.
Trabalhei como Animadora da UNIVA durante nove anos na Escola Profissional Agrícola Quinta da Lageosa, em que dois anos e meio tive o estatuto de trabalhadora-estudante por estar a estudar Psicologia Clínica e da Saúde na UBI.
O Curso de Psicologia foi de facto (e é) a minha “paixão” vocacional, pois não foi fácil voltar à Universidade aos 35 anos, casada e com uma filha de 9 anos e também entretanto ficar desempregada. Mas, lá está: “Quem corre por gosto não cansa” e… já terminei o Curso há cinco anos e meio!
A minha estreia na vida profissional foi curiosamente como Formadora do Módulo Desenvolvimento Pessoal e Social na Modalidade na altura (1994), PFE (Programa Formação e Emprego) e recordo que foi um grande desafio por estar a orientar pessoas adultas que iriam de seguida ficar a trabalhar numa Empresa de Queijos no Parque Industrial do Fundão. Em 1995 fui Professora Provisória da disciplina de História e também Coordenadora do mesmo Grupo na Escola 2/3 de Silvares e nessa altura ao comparar e fazer um balanço lembro-me que apreciei mais ser Formadora.
A atual profissão…
Quando há 5 anos retomei a minha atividade de Formadora tive oportunidade de trabalhar com 2 Grupos de Formandas no Paul, tanto como Formadora, mas também como Mediadora. Aliás,a minha ligação a esta vila advém de ligações familiares, dado que tenho uns cunhados que quando casaram viveram no Paul mais ou menos 6 anos e nesses anos o meu namorado/marido e eu íamos com frequência a esta localidade.
Continuo a exercer a atividade de Formadora das áreas da Sociologia e Psicologia e também trabalho como Psicóloga numa Clínica na Covilhã. Adoro o que faço tanto como Formadora, como Psicóloga, porque me dedico às pessoas e acredito que quando as elogiamos nas suas aprendizagens e competências a sua capacidade de valorização também cresce e a sua autoestima melhora consideravelmente e passam a sentir-se melhor consigo mesmas.
Como vê o mundo em que vivemos…
A encontrar-se! Isto é, as sociedades no geral e no particular as pessoas por vezes perdem-se no “ter” e enquanto não procurarem o “ser” as suas vidas correm “risco” e algumas até “perigo”! As sociedades estão e estarão sempre em mudança, mas quando estas são muito rápidas não há tempo para refletir, viver e pior que isso: amar e socializar! Acredito que a capacidade de manter bons relacionamentos entre as pessoas não se perca de todo e conceitos como individualismo não comande a vida das pessoas.
Acredito no amor e na amizade entre as pessoas, pois para mim só estes sentimentos podem salvar as pessoas e o “mundo” conturbado onde por vezes vivemos!
Mudava algo na sua vida se pudesse voltar atrás… Não sei! É difícil dizer, porque se o pudesse fazer nunca teria garantias que a minha vida fosse melhor. Gosto de viver com o que vou conquistando e construindo e apesar de pensar que em certas situações merecia estar melhor em termos profissionais (por exemplo), não fico presa a isso e aproveito o melhor que posso no trabalho que tenho e com as pessoas com quem me relaciono.
Do ponto de vista: social, pessoal e profissional sente-se realizado/a….
Como estava a referir, em termos profissionais gostava de estar melhor e aqui o melhor significa ter alguma estabilidade. No entanto, gosto muito daquilo que faço como Formadora e como Psicóloga gosto ainda mais, porque é um contexto particular de relação terapêutica que exige de mim outro tipo de competências que aprecio desenvolver. Ao nível pessoal e social também me sinto realizada, dado que tenho atingido os meus projetos de vida, como por exemplo manter uma boa aliança com o meu marido, ser mãe e amiga das pessoas com quem convivo. Aliás, realizo-me muito também nas outras pessoas: se elas estiverem bem sinto-me bem; se não estiverem bem procuro ajudá-las no que posso.
Como encara o futuro…
Não sei responder, porque se as pessoas gostassem mais delas próprias (tivessem uma melhor autoestima) e exercessem a cidadania, o sofrimento e todo o tipo de problemas não prevalecia tanto nas relações interpessoais e o futuro seria mais bem-sucedido para todos. Presentemente, coloco as minhas dúvidas na força interior que as pessoas estão a conseguir alcançar, uma vez que a pressão social de toda esta globalização a que assistimos acaba por as tornar individualistas. Mas como referi anteriormente, acredito ou tenho esperança que as pessoas se apercebam que a alegria e a felicidade só se alcançam se mantivermos uma boa relação connosco e com as outras pessoas, a relação do “ser” e não a relação do “ter”.
As escolhas num minuto
Uma frase…
“Bola para a frente que atrás vem gente”, “Quem corre por gosto não cansa” e não esquecer a velha frase que diz que “não perdemos nada em acender a vela do outro, só produzimos mais luz”.
Um pensamento…
“Um coração amoroso é a sabedoria mais verdadeira” (Charles Dickens), “Não chore pelas coisas terem terminado, sorria por elas terem existido” (L. E. Boudakian) e “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” (Fernando Pessoa).
Um prato favorito…
Bacalhau à Brás, Pizzas e Sopas (qualquer uma!)
Um livro…
Depois de “O Perfume” (1985) do Alemão Patrick Suskinde, passando por “Vai Aonde Te Leva O Coração” (1994) da italiana Susanna Tamaro, o livro “Óscar e a Senhora Cor-de-Rosa” (2013) do romancista francês Eric-Emmanuel Schmitt é sem dúvida o meu livro de eleição.
Um destino…
Adorava viajar por todo o mundo para conhecer melhor outras culturas, tradições e pessoas; sendo assim fica difícil escolher um único destino, mas gostava de ir a Itália, EUA (Nova York em particular) e Egipto.
Uma música…
Sem dúvida: “One” dos U2.
Cinema ou teatro…
Gosto muito de ir ao teatro, pois a “experiência” de estarmos a respirar o mesmo ar dos atores é única. Mas claro, o Cinema proporciona-nos outras emoções, vivências através das estórias de fantasia e histórias verídicas que nos podem dar grandes lições de vida. De ficção nunca vou esquecer o “E.T.” e verdadeiras “A Lista de Schindler” e “Flor do Deserto”.
Amor e uma cabana ou…
Amizade e respeito por todas as pessoas.